terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Vinho - A melhor bebida do mundo, depois da água - 15ª parte

Carta com propósito - Eis, de repente, que me deparo com a melhor carta de vinhos dos restaurantes do Rio. Ou, para ser mais exato, do Brasil, levando-se em conta que estive há não muito tempo em São Paulo e outras cidades importantes. A carta é assinada por Jonathan Nossiter, sommelier e cineasta. O que listar? Como começar? A simples ideia do número de vinhos à disposição dos consumidores é estonteante, torna inexequível qualquer carta que não siga um plano determinado. Este é precisamente o caso da carta de Jonathan e do restaurante de Roberta Sudbrack. Ali come-se o que é fresco, feito pela dona. E bebe-se o que há de melhor no país, numa relação definida não por preço ou origem, mas pelas qualidades intrínsecas do vinho.

Brancos corpo elegante - É o começo, embora ele seja antes introduzido pelas meias garrafas e pelos espumantes. Passemos por estes, que também merecem menção, por incluírem um Larmandier-Bernier e um Egly-Ouriet, champanhes fora da rota conhecida. Mas os brancos elegantes alinham vinhos de pouco mais de R$ 90 - um Monção 07 do Minho, Portugal - e um Alsácia Riesling Josmeyer Le Kottabe 06 a R$ 260. Entre eles hão de se achar um Gavi de Michele Chiarlo do Piemonte, da safra 08, classificado como elegante, o que de fato é. E um silvaner seco da casa Wirsching chamado Iphofer Kronsberg, pequena joia alemã da região da Francônia, a R$ 175. O riesling Bernkastel Selbach Oster 07 Qba fecha com propriedade esse quadro de brancos de aroma vivo. 

Corpo médio, mineral - Temos que lembrar que estamos falando de preços de carta de restaurante, ou seja, preços à mesa, sempre mais elevados. Nos brancos de corpo médio, mineral, à rubrica seguinte, vamos encontrar um sancerre da familia Gitton, no Loire, da safra 06 a 180 reais. Um Cirò da uva greco da casa Santa Venere de 2008 a 105 reais. E um savennières Clos St Yves, espetacular vinho da uva chenin blanc do Loire, da familia Baumard a R$ 220. Quando se pensa na real equação qualidade preço em cartas de restaurantes, se levamos em consideração os preços de vinhos do Novo Mundo, essas escolhas se impõem como bom senso e bom gosto.

Corpo rico - Nos brancos de corpo rico os preços sobem, claro, porque estamos falando de vinhos elaborados e envelhecidos em madeira, como os pulignys-montrachets e os beaunes, grands crus de mais de R$ 600, das casas famosas Montille e Drouhin. Ninguém vai a um restaurante de poucos couverts esperando pagar menos por grandes vinhos como esses. Mas um Gerwurztraminer alsaciano Grand Cru Furstentum da casa Albert Mann está listado a R$ 270. E um Roero Arneis piemontês de Bruno Giacosa fica por R$ 290. Os tintos, dos quais nem tenho espaço para falar esta semana, estão divididos em cinco categorias: corpo elegante, corpo médio, corpo médio mineral, corpo clássico e corpo rico.

Mineralidade e elegância -O que chama a atenção não são os preços. É, sobretudo, o conceito. Como fazer a carta dando a cada grupo de vinhos a identidade que o consumidor merece apreender? Quando se fala em elegância, por exemplo, num branco ou num tinto, o que se quer dizer é uma gradação alcoólica mais baixa e um determinado nível de acidez. Quando se fala de mineralidade, o que se espera é tradução de um terreno onde a madeira não está presente. Da mesma forma, quando se fala em riqueza ou opulência o que se vai identificar é o longo trabalho em adega, a escolha do fruto maduro que dá uma gradação alcoólica mais elevada. Tudo isso com qualidade, claro.

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