Frutos do mar
Se alguém estivesse inspirado e pensasse em combinações de vinho e comida, certamente desaguaria nos frutos do mar. Temos Fortaleza, Natal, aqui mesmo no Rio, em vários bolsões litorâneos, onde as pessoas vivem uma vida gostosa e se deixam levar por ela. Mas em nenhum lugar esses produtos do oceano se mostram tão insolentes, ativos e irresistíveis como nos mares frios durante o inverno. Estive alguns dias na costa atlântica européia durante a nevasca e poucas vezes tive o gosto iodado do mar tão presente, tão invasivo quanto nessas duas últimas semanas de ostras e frutos do mar. Que pena. Esta felicidade está acabando.
Por que?
As ostras da costa atlântica francesa e britânica estão desaparecendo. Os biólogos, ostricultores, o comércio, todas as pessoas envolvidas não sabem explicar exatamente o que está acontecendo. Elas morrem à razão de 30 ou 40 por cento a cada ano. Não adiantam as soluções dos especialistas, não são salvadoras as frases dos ecologistas. E por que o seriam? Essa é uma região do conhecimento ainda não explorada. Muito se fala, pouco se estuda e ninguém esteve lá perto dos ostricultores na Bretanha, na costa bordalesa ou mesmo na península do Labrador e no litoral dos estados americanos do nordeste para saber o que está acontecendo. As ostras estão se fechando. Que não seja para sempre.
Melhores amigos
Ainda assim, com essas más notícias, os frutos do mar e os peixes são os melhores amigos do vinho. Branco, claro. A cultura dos vinhos brancos evoluiu recentemente, com as técnicas de pesca modernas e o acesso de grades aos consumidores aos produtos do mar. Ninguém dava bola para um vinho branco antigamente - quero dizer, há pouco mais de 20 anos - se o peixe servido era uma pasta oxidada e de mau cheiro. Não adiantam as qualidades de um meursault, de um chabils, de um riesling alemão diante da mediocridade dos produtos do mar mal colhidos e mal servidos. Para o vinho, nada melhor que um bom peixe. Nada pior, também, se o pescado for mau.
Rieslings e arintos
Insisto nas descobertas de uvas nativas brancas, por que de repente os portugueses e os italianos se atiraram para cima delas, querendo cantar-lhes as virtudes. De fato são capazes de dar vinhos frescos e excelentes escoteiros para belos pratos de pescado. Mas é preciso saber fazer. Muitos produtores me dizem que fazer um bom vinho branco é bem mais complicado do que fazer um bom vinho tinto. Na Borgonha, a arte do vinho branco afasta os iniciantes. São as famílias tradicionais que se arriscam, por que podem perder os primeiros nãos, a produzir os brancos. Os alemães e agora os italianos sabem disso. Nenhum aventureiro se lança ao barco assim sem mais nem menos.
Quais deles?
E depois de tanto falar em frutos do mar e vinhos brancos, quais deles recomendar aqui ao nosso estreito mercado de vinhos de qualidade? Eu arriscaria sempre os rieslings alemães de Donnhoff, de Burklin Wolf, de Robert Weil, os austríacos de Bruindlmeier e de Prager - este um campeão difícil de bater. Mas há surpresas. Vinhos da uva garganega da região de Soave, na Itália, da uva arinto do Tejo e das Beiras e, sobretudo, da sauvignon blanc, tão massacrada pela mediocridade da Nova Zelândia e que agora os produtores de Sancerre na França tentam recuperar. Enfim, um mundo que se reabre.
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