Branco raro do Rhône
Aromas de flor branca e frutas adocicadas - mais precisamente jasmim e alichia. A uva viognier, francesa na origem do Vale do Rio Ródano, foi plantada em diversas latitudes, sobretudo na Austrália, onde curiosamente é usada como uva de mistura para potentes syrahs ou shiraz, como dizem lá. Mas a viognier é uva nativa da parte norte do Rio Ródano (Rhône), conhecida por seus vinhos caros, dos quais o Condrieu - um branco 100% viognier - é um deles. De tão inacessível, virou meio cult. E muitos produtores se arriscam a produzir esse vinho, o que provocou algumas imperfeições. A uva tem dois problemas: pode deixar muito açúcar residual na fermentação e atinge elevada gradação alcoólica.
O primeiro condrieu
Naquelas escarpas de granito, a mineralidade dos condrieu, mesmo os mais adocicados, se mantém quando o vinho é produzido com dedicação. Os grandes nomes estão representados: Chapoutier, Chave, Delas, Guigal, René Rostaing, Villard e Vernay. Tive alguns encontros sem grandes brilhos com o condrieu de Guigal. Da mesma forma, o de Chapoutier só deve ser tomado quando muito jovem. A qualidade desse vinho é variável porque pode ter muita madeira nova e ficar acima dos 14,5 graus. Mas os vinhos de Yves Cuilleron são a obra prima da denominação. O espetacular 2008 redime todos os demais. Equilibrado a 13 graus, intenso, quase oleoso, de insolente perfume de dama da noite, alichia e pêras frescas, traduz a arte do vinho branco. Está no Brasil via Ana Import, de Salvador.
Joia do Reno
Mencionei aqui neste CBN Express o vinho que mais chamou a atenção dos participantes do jantar beneficente em São Paulo que reuniu 11 célebres famílias vinícolas europeias na semana passada. Foi o Riesling Auslese Goldkapsel 07, de Egon Muller, um branco doce alemão do Rio Saar, pequeno afluente do Rio Mosela, que por sua vez é afluente do Reno. A propriedade dos Muller (estão na quarta geração de Egons, o atual é Egon IV, que já tem o herdeiro, Egon V) detém as melhores parcelas do vinhedo Sharzhofberg, onde a riesling atinge talvez seu ponto máximo de pureza e aroma. Uma degustação desse Goldkapsel (cápsula dourada) nos evoca um diamante, cristalino, límpido, potente e único. O Cápsula Dourade só é feito em grandes safras e não é comercializado. Só se encontra em leilões.
Dão revivido
Tive outro dia um encontro com um vinho do Dão, daquele rio português que durante anos significou para nós aqui um vinho de terceira categoria. Pois agora eles se refizeram. Já há algum tempo, por exemplo, a Quinta dos Carvalhais, que pertence a uma grande empresa vinícola, a Sogrape, se esforça por fazer vinhos quando a safra permite - e não estamos aí falando de cabernet-sauvignon ou outra uva "estrangeira", no dizer dos portugueses. Estamos falando das uvas nativas do rio Dão. Ainda ontem tive pela frente uma delas, o enciuzado, da Quinta dos Roques 98, reconhecida pelos ingleses como uva branca capaz de bons vinhos aromáticos. Não só a Itália, mas os portugueses espertam para o vinho branco. A matéria prima-ajuda.
Importante é falar
Quem quer que se aventure no mundo dos vinhos vai querer falar dele. O que se aprende se repete. Em todas as degustações, nos encontros, mesmo no nosso programa Momento do Brinde, o que os enófilos ou amadores querem é compartlihar as experiências. Perguntar. Ouvir. E ter suas próprias opiniões. Não existe vinho sem um companheiro, uma companheira, uma resposta de amigos ou uma confraria gastronômica. No aniversário do Momento do Brinde, na casa do Sardenberg, mês passado pudemos confirmar essa verdade. Os colegas colunistas acabaram debatendo as virtudes - e em alguns casos os defeitos - dos vinhos servidos. Eram um alemão da casa Donnhoff, um tinto italiano menor, e um sauvigny-les-beaune também longe do ideal. De qualquer forma, o importante é provar mais uma aventura.
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