quinta-feira, 25 de novembro de 2010

VINHO - A melhor bebida do mundo, depois da água - Parte 12


Recuo tático

Há cerca de dois anos abri uma garrafa de um clássico italiano, da safra de 99, um Barbaresco de Angelo Gaja. Trata-se de um dos melhores produtores da Itália, responsável por importantes mudanças na vinicultura e, sobretudo, na viticultura. Meus dois convidados eram franceses. O que se verificou naquele Barbaresco foi a fragilidade da uva nebbiolo, a uva principal da região do Piemonte. Nas condições da minha modesta adega, ele resistiu mal, desagregou-se em vinho de um lado e madeira do outro. Desde então, os produtores de grandes vinhos vêm prestando mais atenção ao carvalho novo. O mesmo acontece com os amarones citrados acima - a não ser talvez pelos mais caros, ainda abaunilhados.

Chilenos no exame

Os vinhos chilenos conquistaram os britânicos já há mais de uma década. Primeiro pelo preço, competitivo. Eram vendidos nos supermercados a preços equivalentes aos dos vinhos do leste europeu. E também pelo refinamento da produção de 10 anos atrás, que tinha níveis de excelência comparáveis aos vinhos da Califórnia - modelo do desenvolvimento chileno nessa área. Mas os juízes e o público mudam, com os ventos e o tempo. Agora este ano, os chilenos enfrentaram uma banca de examinadores, experientes em cabernet- sauvignon, uma uva plantada em toda a parte. Foram 169 vinhos e apenas três medalhas de ouro e 22 de prata. Fiquei satisfeito ao ver que meu preferido, Santa Rita Casa Real 05, é o primeiro da lista. Atenção para a safra.

Australianos também

Já na Austrália as coisas não andam tão bem. As secas e a superprodução estão aos poucos matando os vinhos de referência - e o próprio nome do país como produtor de primeira grandeza. Uma pesquisa também publicada na Inglaterra mostrou que 62% dos consumidores identificam os vinhos australianos como uma bebida produzida em larga escala, “mass produced" (apenas 4% tiveram a mesma impressão dos vinhos chilenos, por exemplo). O problema com os australianos, segundo os críticos, foi a venda das vinícolas para grandes empresas de cerveja - que evidentemente tendem a pensar como fabricantes de bebidas de alto consumo. Mantiveram-se grandes nomes, como Grange, Hill of Grace e os delicados brancos do Clare Valley - mas é preciso achá-los.

Novos crus bourgeois

Saiu a nova classificação de crus bourgeois em Bordeaux. E é preciso que se entenda o que isso quer dizer para os franceses e para o resto do mundo. Os bordeaux principais, os grands crus (60 na região do Médoc e um em Graves, na cidade de Bordeaux praticamente) tiveram uma classificação comercial em 1855. Quem ficou fora dessa lista ganhou, como consolação, a classificação de cru bourgeois, o que em tese deveria significar vinho simples, de família, de casa, não aristocrático. Com o tempo os crus bourgeois subiram de preço e foram melhorando de qualidade. A ponto de três anos atrás estarem na origem de uma briga séria porque muitos chateaux considerados bons ficaram de fora da reclassifacação. Agora as coisas voltam a valer - mas por um ano, incluindo 290 propriedades. Até setembro do ano que vem.

A discussão continua

No Momento do Brinde tivemos diversas vezes a conversa sobre as rolhas de cortiça, as de aglomerados artificiais e a as tampas de rosca. Minha posição num desses bate-papos foi a favor das tampas de rosca para vinhos brancos frescos. Argumentei que a vedação é mais garantida nos primeiros dois anos e que não havia provas de deterioração industrial ou consequências nefastas como no caso da cortiça. Eis que aparecem agora com força os defensores da cortiça, dizendo que no Concurso Mundial de Bruxelas este ano 99% das garrafas arrolhadas estavam em perfeitas condições. E que teve gente reclamando do "efeito cortiça" - aquele cheiro ruim - em garrafas vedadas com metal. Enfim, a briga continua. E os vinhos finos, de guarda, se mantêm em cortiça.

Conviver com grifes

Aqui algumas vezes já reclamei, lamentei e mencionei: os vinhos de grande qualidade, os famosos, são hoje itens de luxo, assim como os carros caros, as marcas da moda, os diamantes os sonhos de consumo que beiram a extravagância. O que fazer? Se a gente convive com os salários de craques do futebol, com os preços do metro quadrado em áreas consideradas nobres, como não conviver com os preços pagos em leilões por uma caixa de 12 garrafas Château Lafite? Como? Não convivendo. Os preços pagos por caixas de Lafite por compradores estranhos ao comércio de vinhos são ofensivos, insultuosos. Tudo bem que o Lafite é o Lafite. Mas não será porque o nome é fácil de pronunciar em chinês?

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