segunda-feira, 13 de junho de 2011

VINHOS 4 - Vinhos para celebrar momentos românticos


 – O número alto e constante de perguntas do Momento do Brinde comprova: a culinária brasileira pede harmonização com vinhos, como qualquer outra cozinha internacional. Na maior parte das vezes, sugiro vinhos sul-americanos. Por uma questão de comodidade. E por serem os argentinos e chilenos mais abordáveis do ponto de vista de preço. Mas uma pesquisa cuidadosa nas listas de importadores vai encontrar equivalentes em outros continentes. Há vinhos franceses e italianos acessíveis - e eles combinam com uma boa parte da culinária brasileira, do churrasco à moqueca capixaba. Regiões de vinhos recomendadas: Toscana, Loire e Cotes-du-Rhône. Foram já muitas as perguntas dos ouvintes do Momento do Brinde sobre o vinho do Dia dos Namorados. A primeira imagem é o champanhe rosado. Um vinho de romance, de história, de significados cinematográficos. Hoje, os rosados dominam esse campo. Mas no passado em Hollywood, era o champanhe simples, brut como está escrito no rótulo (o que quer dizer seco) que dominava as cenas entre Ingrid Bergman e Humphrey Bogart - e eles são apenas o início de uma longa história de enamorados ao redor de um copo de champanhe. O que mudou de lá para cá foi o formato do copo. Não é mais a taça que pretendia imitar os seios de uma cortesã, mas um copo em forma de tulipa. Mabileau, Lorieux, Amirault são nomes de produtores do rio Loire ao alcance do consumidor paulista e carioca. Saumur, Chinon, Bourgueil, St. Nicolas de Bourgueil são denominações com as quais o apreciador tem pouca ou nenhuma intimidade. São tintos do Loire, famosos pelos seus brancos esplêndidos. Entre os quais o Vouvray, o Savenières, o Sancerre, o Pouilly-Fumé, o Bonnezeaux. Os tintos são da uva cabernet-franc. Em Bordeaux, misturada a outras, ela dá vinhos de exceção, como o Château Cheval Blanc e outros da subregião de St Emilion. Uma uva que sabe envelhecer. Os chinon podem durar mais de 15 anos, adquirindo tons nobres, aromáticos e persistentes. Foi um almoço sem pretensões, o de sábado que passou. E como tinha cinco convivas, decidi repetir o que a cozinheira lá de casa faz melhor. Uma carne seca, bem sequinha, com purê de abóbora, farofa de torresmo e couve à mineira. Fiquei indeciso entre um tinto de bordeaux comum e um vinho mais rústico do sul da Itália ou de Portugal. Meu amigo Murilo inspecionou comigo a adega e descobriu - ah, que olho - a última garrafa de Barolo Castiglione 2000 de Vietti. Argumentei que talvez ele tivesse passado do apogeu. Meu convidado insistiu, desceram-se os copos de barolo da Riedel, e a festa foi inesquecível. Harmonização impecável.  O que se quer de um grande tinto? Que se equilibre com a comida, claro, mas que não perca sua autoridade. É justamente de autoridade que estamos falando quando abrimos uma garrafa de um grande barolo bem envelhecido. Ele pode estar - como está, na verdade - fora do alcance do comum dos mortais, aos preços que se pagam hoje mesmo na sua região de origem, o Piemonte. Não importa. Essa garrafa de Castiglione 2000 de Vietti (importado pela Mistral de São Paulo) tinha o equilíbrio, a força, a higidez e a elegância de um tinto que jamais se deixou tocar pelo amadurecimento em madeira. Estava soberano. Sempre qualifiquei o aroma do vinho feito da uva gewurztraminer alsaciana como insolente. Invasivo. Às vezes agressivo na sua potência de fruta e de flores. A fruta, a alichia, a pêra, às vezes o pêssego. As flores são o jasmim e a dama-da-noite - que se encontram também - e até às vezes mais definidos, nas uvas viognier e torrontés. Mas a gewurztraminer é inconfundível. Gewurz quer dizer especiaria em alemão. Por que a nomenclatura em alemão, inclusive os nomes dos vinhedos? Porque a Alsácia é a fronteira entre os dois países. Ali se fazem grandes vinhos. O gerwurztraminer Grand Cru Kitterlé 05 do Domaine Schlumberger (importado pelo Club do Tastevin) é uma pequena obra-prima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário