segunda-feira, 13 de junho de 2011

VINHOS 3 - Americanos interferindo no vinho francês




Os americanos se retiraram do mercado de Bordeaux em 2009 e 2010 por causa da crise. Ficaram e ainda continuam desconfiados dos preços pedidos pelos produtores - um absurdo num mundo que não faz o menor sentido. Como em plena quebradeira de bancos nos países desenvolvidos, um produtor de Bordeaux sai cotando seus vinhos a mais de 200 euros na propriedade, antes dos demais custos? Ora, os americanos se voltam para os seus tintos e brancos da California. São caros também, mas menos. E tentam mudar o estilo - em vez do carvalho novo e fruta muito madura, tentam a tipicidade. Apostam nas uvas pinot-noir e syrah, buscando a tipicidade. A ver. Uma carta na revista Decanter me chamou a atenção pela sinceridade. Tratava-se de champagnes e de vinhos antigos, que suportam bem o envelhecimento. O leitor identifica dois traços típicos nos apreciadores do vinho. Os românticos - que não se importam como o vinho é feito e de que maneira é servido - e os clássicos, que querem saber das safras, do modo de fazer e do modo de servir. É uma classificação simplista. Mas se a gente pensar bem, os primeiros não passam no teste do rigor e os segundos têm que levar um bom tempo para se aperfeiçoar. Uns 32 anos, calculo. As mulheres em geral aprovam os vinhos de sobremesa. Quando têm qualidade, são raros e caros. São complementos untuosos que vestem o doce, a torta e todos os confeitos. Ninguém como os austríacos e os franceses (que disputavam essa arte, gole a gole) fez pelas sobremesas o que seus vinicultores fizeram. Os sauternes são o melhor exemplo. São? Não. Há melhores na França, nas regiões de Alsácia e Loire. E os austríacos têm em Kracher e Prager os beerenensauslesen (o que quer dizer vinho doce) inesquecíveis. Sem falar dos alemães, professores na matéria dos trockenbeerenauslesen, os licorosos, os mais longevos. Duram mais de 30, 40 anos. E mais: com gradação alcoólica baixa. Nos livros sobre harmonização de vinhos encontro a insistência no tema central: queijos e vinhos. Em todos busco a fórmula do queijo com vinho tinto e sinceramente quase não vejo boas sugestões indicadas por quem faz os queijos. E menos ainda por quem faz os vinhos. A maioria dos queijos pede vinho branco - por mais estranho que isso possa aparecer. O crítico e escritor Hugh Johnson dá preferência aos brancos mesmo com queijos de casca amarelada. E diz que em todas as ocasiões sempre guarda um branco ao alcance da mão para o queijo do fim, qualquer que seja, entendendo-se antes com o sommelier ou com o anfitrião a respeito do assunto.

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