Observação das aves em zoológico orientou elaboração da obra.
Ararinha-azul vivia na Caatinga e não ocorre na Mata Atlântica.
Antes de criar os personagens de 'Rio', o diretor Carlos Saldanha viajou com sua equipe ao Rio de Janeiro para ver diferentes espécies de aves no zoológico da cidade. O resultado na tela distorceu um pouco algumas características das aves na vida real, em um processo de "liberdade criativa" que Saldanha reconhece e defende em prol da fluidez da narrativa. O filme estreia nos cinemas do país na sexta-feira (8).
A principal liberdade narrativa permitiu mostrar, no filme, a ararinha-azul vivendo livremente na Mata Atlântica no Rio de Janeiro. Mas a espécie só ocorria em uma área específica de Caatinga na Bahia. "Não é uma espécie florestal como aparece no filme", diz Jaqueline Goerck, diretora da Save Brasil, representante da Bird Life International em São Paulo, que viu a pré-estreia da animação e agora mantém conversas com Saldanha e a Fox Filmes para tentar criar ações que chamem a atenção para a importância da conservação da ararinha na natureza.
Apesar das pequenas diferenças com a realidade, o filme retrata "bem realisticamente" a questão do tráfico de animais, segundo Jaqueline. "Mostra como os indivíduos [bichos] são acondicionados de forma precária pelos traficantes. O mercado ilegal de animais silvestres é muito forte no Brasil e só fica atrás do mercado de armas e de drogas. De cada dez aves capturadas na natureza, só uma sobrevive", diz ela, que ajudou o Globo Natureza a comparar características dos principais personagens do filme com espécies da vida real.
FILME | NATUREZA |
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Jade e Blu (Foto: Divulgação) | Ararinha-azul ou Cyanopsitta spixii (Foto: Loro Parque Fundación/ Save Brasil/ Divulgação) |
Blu é maior do que Jade e seu azul é mais escuro, lembrando outra espécie diferente da ararinha-azul: a arara-azul-de-lear. Saldanha diz que o personagem é um "híbrido" das espécies, recurso necessário para diferenciar macho e fêmea no filme. São originários da Mata Atlântica no Rio de Janeiro e têm patas com dois dedos virados para frente e um para trás. Usa bico para escalar e subir em galhos. | Existia até 2000 em uma área reduzida de Caatinga perto do município de Curaça, na Bahia. Até pesquisadores têm dificuldade para diferenciar macho e fêmea sem analisar o indivíduo de perto. Na natureza, pertencem à família dos psitacídeos, que têm patas com dois dedos virados para frente e dois para trás. Alimenta-se de sementes e frutas. Usa o bico para escalar e subir em galhos. |
Raphael (Foto: Divulgação) | Tucanuçu ou Ramphastos toco (Foto: Arthur Grosset/ Save Brasil/ Divulgação) |
Vive na Mata Atlântica do Rio de Janeiro e a personagem fêmea, companheira de Rafael, é mais colorida do que ele. Pratica voos rasantes e tenta ensinar Blu a voar. | Ocorre no Pantanal e é alvo do tráfico de animais. Na natureza, macho e fêmea são idênticos. Faz voos curtos de uma árvore a outra, sem capacidade para longas distâncias. |
Pedro (Foto: Divulgação) | Cardeal ou Paroaria coronata (Foto: Adriano Becker/ Save Brasil/ Divulgação) |
Vive na cidade do Rio de Janeiro e tem crista vermelha. | Tem distribuição ampla no Brasil, se alimenta de sementes, tem crista vermelha e é uma ave canora, alvo de passarinheiros ilegais ou registrados que a criam para participar de concursos de canto. |
Nico (Foto: Divulgação) | Canário-da-terra ou Sicalis flaveola. (Foto: Arthur Grosset/ Save Brasil/ Divulgação) |
Vive na cidade do Rio de Janeiro. | Tem distribuição ampla e vive sobretudo em áreas abertas. Se alimenta de sementes e insetos e é uma ave canora, alvo de passarinheiros ilegais ou registrados que a criam para participar de concursos de canto. |
Nigel (Foto: Divulgação) | Cacatua-da-crista-amarela ou Cacatua sulphurea (Foto: photokai/ Flickr Creative Commons) |
Agressivo, Nigel é o vilão do filme e ajuda traficantes ilegais de animais silvestres. | Originária da Austrália, existe no Brasil em cativeiro e não é agressiva nem predadora. |
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