Neville Page esteve no evento paulistano The Union
(Foto: Gustavo Miller/G1)
(Foto: Gustavo Miller/G1)
Neville Page nunca fez filmes de terror, mas monstros são com ele mesmo. O renomado designer americano, que criou os monstrengos virtuais de blockbusters como “Star trek” e “Cloverfield”, esteve em São Paulo nesta terça-feira (15) para um evento voltado a estudantes e profissionais de computação gráfica.
A visita ao Brasil era um sonho, segundo Page, que diz ter a Floresta Amazônica como grande inspiração. “Para ‘Avatar’ fiquei seis meses estudando a vida selvagem de florestas da Indonésia e da Costa Rica. Ficar na Amazônia será meu próximo passo para inspirar os outros dois filmes”, adianta o designer ao G1 logo após sua palestra - em que foi saudado pelo público brasileiro tal qual uma estrela de rock.
Page diz não acreditar na história de que os sucessores do longa de ficção de James Cameron sejam rodados no Brasil, como se chegou a especular. “Filmar em uma floresta ao vivo é muito complicado. As chances de não ficar bons são muitas”, explica ele, que criou ao lado do cineasta praticamente toda a enorme fauna de Pandora, com seus seres luminescentes de todas as raças.
O designer é o predileto de Cameron e de J.J. Abrams, criador da série “Lost” e diretor de “Star trek” e “Cloverfield”. “São pessoas que trabalham de maneiras opostas. Cameron desenha o que quer no bloco de papel, e seu roteiro tem tantos detalhes e descrições que eu simplesmente sei o que fazer. Alguns diretores como ele lhe dizem simplesmente o que fazer, o que é bom às vezes. Já J.J. não pega uma caneta sequer, ele permite todo mundo opinar durante a criação”, explica ele, que atualmente trabalha ao lado do cineasta e de Steven Spielberg no misterioso “Super 8”.
O designer foi responsável em criar os animais que James Cameron imaginou para o mundo de Pandora (Foto: Divulgação)
O filme é ambientado no fim dos anos 1970 e gira em torno de um grupo de seis garotos que em uma noite vão a uma área rural tentar fazer seu próprio filme de terror com uma câmera super 8. Durante a gravação, um caminhão e um trem colidem. E na cena do acidente surge uma criatura não-humana – desenhada por Page.
“Não posso nem falar se é um monstro ou não”, brinca ele, que passou por experiência semelhante durante “Cloverfield”. O monstro que criou passa boa parte do filme escondido, na sombra, o que leva o espectador a criar uma enorme expectativa em torna de sua imagem.
“Gosto muito desse mistério que o J.J. sabe criar, ele ajuda a audiência preguiçosa a prestar mais atenção em detalhes do meu trabalho”, acredita Page, que sabe que todo o suspense em torno do monstrengo também fez parte do público se decepcionar com o visual dele.
Americano criou as novas roupas dos personagens de 'Tron: o legado'. 'Foi meu trabalho mais difícil', diz. (Foto: Divulgação)
“As pessoas ficam abusivas na internet, elas se sentem livres para mostrar opiniões fortes”, ri, com a experiência de quem já levou muito bordoada de expectador nerd. Em “Star trek”, por exemplo, ele criou o novo visual dos seres de Klingon. Já em “Tron: o legado” foi responsável por modernizar as roupas já futuristas dos personagens, com destaque para os capacetes de vidro retrátil.
Em breve chega a aguardada adaptação do super-herói Lanterna Verde para os cinemas, que também leva a sua assinatura. “As pessoas me amam ou me odeiam. O importante é eu conseguir provocar uma reação que esteja no meio disso”, afirma.
Visual de Lanterna Verde é o seu mais recente
trabalho (Foto: Divulgação)
trabalho (Foto: Divulgação)
Neville Page não se considera um designer digital e defende a tese de “menos tecnologia, mais design”. “As pessoas acham que os computadores mudaram todo o meu trabalho. Sim, mas não da maneira que pensam. A tecnologia, na verdade, me tirou a frustração das grandes mudanças”, comenta, citando as diversas vezes em que teve de mudar seus desenhos porque James Cameron não os aprovava.
Ao contrário do cineasta, ele não é entusiasta do cinema tridimensional. Segundo Page, ele não alterou em nada o seu trabalho. “Só altera quando é um 3D para divertir. O máximo que faço é esticar as antenas de um animal para elas saírem da tela”.
Outra polêmica que ele encampa é que seu trabalho não é artístico. “Parece arte, mas é um processo comercial. Jovens designers não entendem isso”, comenta. “Não importa o lugar que você esteja, o topo que alcance: sempre haverá um cara de terno, um chefe para lhe dizer o que fazer”, ri.
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