Variações de um clássico – Dizem que os soldados de Napoleão quando passaram pelo terreno de Chambertin, na Borgonha, bateram continência. O tinto já era conhecido havia séculos e era sinônimo de excelência. Para um "grand cru" das Côtes des Nuits, bem perto da cidade de Dijon, é um vinho que varia muito. Não de safra para safra, mas também de produtor para produtor. E às vezes na mesma casa produtora os resultados em garrafas são diversos entre si. Como se trata de um dos vilarejos (villages) mais antigos e tradicionais, o vinho segue o mesmo ritmo de vida - lento nas mudanças, apegado às raízes culturais. Velhos hábitos demoram para mudar.
O campo de Bertin – Bertin, vinhateiro em Gevrey (esse era antigamente o nome do vilarejo), possuía uma parcela de terreno vizinha a uma outra conhecida, o Clos de Bèze. Conhecendo como conhecia as experiências dos monges daquela região da Borgonha, plantou ali as mesmas uvas, pinot-noir da mesma família, e obteve um vinho similar aos dos mosteiros. Ficou sendo o Champs de Bertin, campo de Beetin. Isso aconteceu na Idade Média. Já havia logo de início, portanto, dois vinhos ali: o Chambertin e o Chamnbertin Clos-de-Bèze. São duas denominações, hoje chamadas de denominações de origem protegida, DOP, antiga AOC, denominação de origem controlada.
Os outros grands crus – Pela qualidade das uvas, pela potência dos aromas e pela estrutura longeva, logo esses dois citados receberam denominação Grand Cru, o que queria dizer grande vinho, grande plantação. Mas em torno deles outros produtores foram adquirindo terrenos adjacentes e deles vieram outros seis grands crus de características similares, sem chegar ao nível dos primeiros. Os vinhos mostram uma solidez e plenitude comparáveis e em certas safras fica difícil distingui-los. São eles o latricières -chambertin, o chapelle-chambertin, o griotte-chambertin, o mazis-chambertin, o mazoyères-chambertin e o ruichottes-chambertin. São terrenos próximos, um ao lado do outro.
O que é bom é caro – Mais do que em outras regiões da França, na Borgonha vale a lei implacável e universal - tudo que é bom é caro, nem tudo que é caro é bom, mas tudo que é barato é ruim. O experiente Michael Broadbent, decano dos críticos de vinho do mundo, percorreu Chambertin recentemente e notou as enormes diferenças de preço, às vezes na mesma safra. O que se deve não só ao terreno, mas ao marketing. Um Chapelle-Champeertin de Pierre Damoy estava a 65 libras esterlinas. O Latricières-Chambertin de Simon Bize estava a 95 libras. O Griotte-Chambertin do Domaine Chezeaux, a 49, e o Chambertin do Domaine TrapetRossignol a 122 libras. Mas o Chambertin Clos-de Bèze do mais respeitado, Armand Rousseau, exigia 425 libras, sem data para entrega. É caro.
Harmonização da semana – De novo os brancos, e de novo a comida oriental. Tanto mal se falou da possível harmonização das receitas asiáticas com vinhos da Europa a e de outras regiões produtoras que os donos de restaurantes e hotéis insistiram. Viram que não podiam dar uma parte sem a outra. Mesmo críticos como Hugh Johnson foram forçados a admitir a harmonia entre os pratos orientais que não contenham açúcar e os rieslings, por exemplo. O mais importante nessa história é que a comida japonesa com seu ritmo próprio no almoço e no do jantar permite diversas combinações - e diversos silêncios. Vinho deve ser degustado, no início, em silêncio.
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