A 15 metros de altura, Stephen diz que presenciou
uma ameaça de bomba quando fotografou
o Flatiron Building (Foto: Stephen Wilkes/Divulgação)
Com mais de duas décadas de experiência fotografando tanto para grandes publicações ("Time", "Life", "Sports Illustrated", "Vanity Fair") quanto em trabalhos de publicidade e ensaios artísticos premiados, Stephen Wilkes adora falar sobre seu trabalho. Mais ainda quando se trata de sua mais nova exibição, que usa locais icônicos de Nova York como palco para fundir dia e noite na mesma imagem, em um longo processo de colagem.uma ameaça de bomba quando fotografou
o Flatiron Building (Foto: Stephen Wilkes/Divulgação)
Tudo no projeto "Day to Night" é trabalhoso. Desde, por exemplo, passar 15 horas sem se mexer "flutuando" em uma grua a 55 metros de altura sobre a Park Avenue, uma das avenidas mais movimentadas de Nova York, até as mais de duas semanas "colando" as fotos uma a uma no computador até que elas atinjam a perfeição.
Em entrevista exclusiva ao G1, Stephen revelou que tem planos de vir ao Brasil em breve, e quer fundir o dia e a noite no céu do Rio de Janeiro. Ele também mostra em primeira mão uma foto da exposição que não estava disponível em seu site, e um vídeo "que vai te fazer pirar" (palavras dele), do dia [e a noite] em que ele fotografou Coney Island, para uma de suas imagens favoritas. Leia a entrevista logo abaixo.
'Coney Island', por Stephen Wilkes. A imagem, uma das preferidas do autor, faz uma transição da noite para o dia, usando detalhes das sombras de pedestres no fim da tarde, por exemplo para criar harmonia entre um lado e outro da paisagem (Foto: Stephen Wilkes/Divulgação)
(Veja ao lado o o vídeo de time-lapse feito por Stephen Wilkes com uma outra câmera fixada acima da primeira, fotografando continuamente ao longo das várias horas da sessão de fotos em Coney Island)G1 - Observando o corpo de sua obra como fotógrafo, parece que esta é a primeira vez que você desenvolve um projeto em que a colagem é um ponto tão central. De onde surgiu a ideia de fundir noite e dia?
Stephen Wilkes - Você se lembra do filme "Romeu+Julieta", com o Leonardo diCaprio? os produtores me contrataram para fazer uma foto no set do filme, com o elenco e a equipe da produção, com todos que trabalham por trás das câmeras também. Eles queriam uma foto panorâmica, mas quando cheguei ao México (onde o filme foi gravado) o estúdio era quadrado. Na época, eu estava fascinado com o trabalho de colagens de David Hockney, que chegava a usar 50, cem fotos para compor uma imagem, e pensei que essa seria uma boa oportunidade para tentar algo parecido. Acabei fundindo 250 fotos diferentes para compor a imagem. Mas o interessante foi que, à direita na panorâmica, havia um grande espelho em que era possível ver o reflexo do Leonardo diCaprio e da Claire Danes ("Romeu" e "Julieta"), mas quando fotografei o espelho para compor a foto, pedi que eles se beijassem. Foi aí que tive a ideia de que eu podia "mudar o tempo" em uma mesma foto.
Stephen Wilkes (Foto: Divulgação)
G1 - O processo até finalizar uma imagem com esse tipo de técnica é bem trabalhoso, não? Pelo visto, foi mais complicado ainda no 'Day to Night'...Wilkes - Muitas das fotos foram feitas com a ajuda de uma grua que nos erguia (Stephen e um assistente) a mais de 55 metros de altura. O trabalho é muito estrito. A lente não se move, ela fica travada naquela posição por horas, e você pode perceber as complicações disso. Geralmente, são cerca de 15 horas para uma sessão. Você precisa comer, você precisa fazer suas necessidades... E, uma vez que estamos lá em cima, nós não nos movemos! À noite, há o vento, o frio... Eu digo que cada foto é como uma ótima garrafa de vinho, que exigiu um processo trabalhoso e até a ajuda do clima para atingir a perfeição.
G1 - Das imagens do "Day to Night", alguma delas marcou como mais desafiadora que as outras?
Wilkes - A foto do Flatiron Building (no início do texto) foi feita em um 11 de setembro, e algo extraordinário aconteceu aquele dia. Era um dia muito bonito e ensolarado, que lembrava inclusive a manhã dos atentados de 2001, e estávamos em uma grua erguidos a uns 15 metros do chão no cruzamento entre a Broadway e a 1st Avenue. Por volta de 10h30 da manhã, ouvimos um alerta da polícia pedindo que todos saíssem do Madison Square Park, à nossa esquerda. Todos começam a sair da área, mas ninguém nem olha para cima - o que é típico de novaiorquinos. A polícia também nem olhou para cima. Estávamos perto de um esquadrão antibombas, e de dentro do caminhão sai um policial com um traje de proteção enorme, como aquele que aparece no filme "Guerra ao Terror". Esses caras só aparecem quando a coisa é realmente séria. Ele entra no parque e sai levando algo com todo o cuidado, e nós vendo tudo lá de cima! Eu viro para meu assistente e digo: "Acho que estamos na zona de explosão". Não sei se foi a fotografia mais desafiadora, mas certamente foi a que me deixou mais nervoso.
G1 - Você é claramente muito ligado a Nova York, o que é visível não só pelo trabalho atual, mas por outros ensaios que você já produziu. Você considera a possibilidade de desenvolver o 'Day to Night' em outros lugares, ou só consegue enxergá-lo acontecendo em Nova York?
Wilkes - É interessante, na verdade estou planejando ir para o Rio, e quero fazer o "Day to Night" lá. Tenho alguns amigos no Rio que conheci enquanto viajava pela Croácia, e temos conversado sobre isso. Estou empolgado para fotografar o Carnaval e quero fazer algumas fotos do "Day to Night" no Brasil, e isso pode acontecer num futuro bem próximo.
'Day to Night' em detalhes
Equipamento: câmera de grande formato, que registra o equivalente a algo entre 65 mil e 80 mil megapixels
Quantas imagens compõem a exposição: 9
Quando as fotografias foram produzidas: entre 2009 e 2011
Tempo médio para finalizar cada imagem: entre 14 e 30 dias
Equipe envolvida: assistente de fotografia, retocador na pós-produção, gráfica especializada em grandes impressões
Exposição: de 8 de setembro a 29 de outubro na ClampArt Gallery, em Nova York
Site: www.stephenwilkes.com
Wilkes foi um dia fazer fotos de um casal no apartamento em que eles moravam para uma reportagem, e ficou fascinado com a vista do Central Park que eles tinham da janela. Explicou seu projeto, e o casal ficou feliz em deixá-lo usar a varanda para fazer as fotos do parque - durante um dia inteiro. O fotógrafo e seu assistente ficaram na varanda 'emprestada' desde as primeiras horas do dia até tarde da noite, após uma das maiores nevascas dos últimos anos - o que os poupou do frio que teriam que enfrentar sobre uma grua caso a varanda não estivesse disponível. (Foto: Stephen Wilkes/Divulgação)
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