terça-feira, 21 de setembro de 2010

VINHO - A melhor bebida do mundo, depois da água - parte 6

Estranheza - Estranha esta primavera de 2010, que está para começar. Corremos aos catálogos que nos antecipam as novidades esperando que os preços caiam. No momento em que escrevo, o dólar alcançou a menor cotação em muitos anos, mas aparentemente esse cálculo de câmbio não tem nada a ver com a realidade. Os preços que vemos nas listas de nossos importadores em dólar nunca caíram. A explicação é sempre uma conversão para reais que leva em conta o valor do euro, que até pouco tempo atrás, subia. Não mais. Se formos constatar o que acontece mesmo, o gasto das pessoas em vinho diminuiu. Mas o preço do vinho, esse, não. Continua como um produto de luxo. Pena.
Gosto espanhol - Sardenberg encaminhou ontem a dúvida de um ouvinte que iria celebrar o casamento em Madri com um cordeiro à maneira tradicional e me pediu sugestão. Lembrei-me dos cordeiros que provei na velha Castela, na região da Mancha e de Aragão, sempre escoltados por tintos envelhecidos com esmero por apaixonados de cozinha e vinho. Nos últimos anos, o gosto espanhol andou errático, sem foco, influenciado pelas revistas e pelo mercado americano. Robert Parker tem muito a ver com essa mudança. Mas já vejo uma reação na região da Rioja. Na Ribera del Duero ainda não existe - fora o Vega Sicilia - um vinho que se possa dizer espanhol.
Buscas e perdas - Há quanto tempo os leitores do CBN Express Vinhos sabem que entre os tintos italianos há escolha mais ampla que os demais? São mais de 200 uvas nativas, "autoctoni" como eles dizem. E estamos falando só dos tintos. Iniciei uma busca pelo sul da Itália. Encontrei belas surpesas na Sicilia, por cujo futuro aliás temo muito. As belezas minerais da uva nero d'avola podem estar sendo apagadas pela superprodução e por um uso excessivo de madeira nova no envelhecimento. A lagrein dos Alpes também me seduziu, mas ainda não acho que seja um vinho competitivo. Sagrantino de Montefalco, Montepulciano d'Abbruzzo, esses sim, mas os preços assustam.
Olímpicos - Duas semanas na Austria me confirmaram que os brancos alemães têm um sério problema: a competição dos primos austríacos. Às margens do Danúbio são hoje cultivados alguns dos mais belos e puros vinhedos da história recente dos vinhos brancos. Para enfrentar os alemães, eles têm o riesling das regões do Kremstal e do Wachau, vinhos puríssimos, na maioria biodinâmicos, de grande poder aromático e capazes de envelhecer. Para completar, os austríacos têm uma bandeira, um vinho próprio, da uva nativa chamada gruner veltliner, só cultivada ali. Dá um vinho mais encorpado, capaz de maturação mais rápida, e cheio de corpo - além de aromas de pêra e maçã maduras.
Nomes a guardar - De rieslings e gruner veltliners que pude trazer - umas poucas garrafas - estou acarinhando com especial atenção os de Brundlmeyer, Prager, Kracher e Nikolaihof, todos à disposição do consumidor brasileiro (nas importadoras Mistral, de São Paulo, e Casa do Porto, de Vitória). E sobretudo - esses não estão à venda aqui - os de Knoll, Hirtzberger e Pichler, nomes a guardar, atestados de qualidade que não podem ser esquecidos nos guias e nos livros. Aliás, é uma boa sugestão para os importadores. Por que não procurar esses vinhos, que são uma excelente relação qualidade-preço? Comprei os Knoll e Pichler a menos de 30 euros numa loja turística. Imagino que haja espaço para bons negócios em volume.

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