quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Vinho - a melhor bebida do mundo, depois da água - parte 4

Austríaco xiíta - Uma almoço no Rio, nesta semana, no restaurante D'Amici, pilotado pelo sommelier Pedro, um apaixonado, reuniu dois nomes famosos dos vinhos biodinâmicos, a nova onda. Um deles da Austria, Nikolaihof, produtor que mais se dedica ao tema às margens do Danúbio. O que se pode imaginar é que lá, um país onde a poluição é quase zero e a ideia de conservação é quase xiíta, ser biodinâmico ou fazer agricultura orgânica é uma consequência natural. Eles podem. Dos vinhedos do planeta, a região do Wachau, de onde vêm esses vinhos, é um dos mais cuidados. Os vinhos eram um gruner veltliner (uva nativa austríaca) 04, com 11% de gradação alcoólica. E um riesling 05, o Steinerhund, com 12% de gradação. Elegância e consistência.
Francês pioneiro - O outro vinho biodinâmico foi do pioniero dessa técnica, o francês Nicolas Joly, do vale do Loire. A propósito é uma filosofia de cultivo da natureza, que foi criada pelo austríaco Rudolf Steiner nos anos 1930 do século passado. Consiste em obedecer a certos ciclos lunares e até, em alguns casos, cósmicos ou mesmo zodiacais, no sentido de que a posição do planeta muda e cria os dias fruta, dias folha, os dias raiz, os dias terra e várias outras condicionantes meio esotéricas têm que ser seguidas. É óbvio que isso exige a preparação do terreno durante pelo menos cinco anos, para eliminar traços tóxicos e culturas equivocadas. O que significa um considerável investimento. Nicolas Joly escolheu os arredores de Savennières, na região de Anjou, perto da foz do Loire.
Branco lendário - Em Savennieres dois terrenos ganharam uma denominação própria, justamente os pontos mais elevados de uma área completamente intocada, rústica, quase selvagem e de difícil acesso. São os vinhedos Quarts de Chaume e La Roche aux Mpoines. As características desses brancos não serão do agrado de todo mundo. Eles amadurecem longamente, mas apresentam uma cor profunda de um dourado brilhante, aparentando mais idade mesmo aos cinco, seis anos. A uva chenin blanc nasce ali para envelhecer bem, é das mais longevas que se conhecem. O gosto e os aromas lembram as colmeias, as flores, a cera e o mel, com um traço de acidez ou de fino amargor em fim de boca, que os torna resistentes. Um branco que existe por si. Não precisa de comida.
Contraste rio acima - Falamos da região de Anjou e Saumur, perto da foz. Rio acima, mais perto da nascente, os tradicionais terrenos de Sancerre estão desapontando os consumidores nos últimos anos. Os nomes tradicionais se embaralharam na utilização do carvalho novo em muitos casos. O tempo não ajudou, a maturação das uvas tem sido irregular. A safra de 2009 recebeu apenas uma menção de excelência da revista Decanter (Decanter Award), 14 menções de muito bom e 70 menções de apenas bom - o que denota um forte desequilíbrio. O problema que agrava a qualidade irregular são os preços, que predispõem o consumidor a ser mais crítico. Pascal Jolivet e Guy Saget obtiveram a segunda menção, mas Lucien Crochet ficou de fora.
Chineses presentes - Os americanos reclamaram e continuam reclamando da safra de Bordeaux 09. Muitos negociantes de Nova York e Chicago não compraram. Recusaram-se a participar da campanha en primeurs (venda antecipada, quando o vinho está em tonel, como acontece com a compra de mercado futuro). Os produtores de Bordeazux não se comoveram. Puseram preços nas alturas, mesmo pequenos charteaix que sairam da porta da propriedade a mais de 140 dólares, vinhos modestos que nos anos anteriores valiam menos da metade. Bordeaus está no mercado oriental. E para os chineses, a cor vermelha é sinal de felicidade. Vinho lá é o tinto. Que custe caro, tenha o gosto e aroma que tiverem. Eles vão continuar a comprar.

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