Nympha nasceu no dia 1º de novembro de 1911.
(Foto: Kelly Martins/G1)
(Foto: Kelly Martins/G1)
A mato-grossense Nympha Escolástica da Silva comemora 100 anos de idade nesta terça-feira (1º) e demonstra que seu prazer é não ter deixado sua vida ser superada pelo tempo. Data em que a Igreja Católica comemora o Dia de Todos os Santos, a aposentada diz que se sente abençoada pelo calendário, já que, o dia posterior, de Finados, é quando se depara com a solidão. “Meu marido se foi antes de mim, quando íamos completar 55 anos de casados. E os meus amigos, já morreram todos”, conta, com olhos de quem viu uma geração ir embora.
Viúva há mais de 20 anos, Nympha Escolástica afirma que seu marido foi seu grande amor. Ela se lembra do momento em que foi pedida em casamento através de uma carta enviada para sua casa pelo homem que, segundo ela, pagou o preço necessário para tê-la. Porém só se recusou a uma única coisa: beijá-lo. "Deus me livre. Completo 100 anos com minha boca virgem. Ela é sagrada e só a usei para comer e beber. Mais nada. Nunca beijei meu marido e nem namorado”, reforça. Para a vovó, o beijo é algo repugnante e critica quem o faz. “Não sei como uma pessoa consegue fazer isso. Dá nojo. Sempre falo para os meus netos largarem mão disso porque não consigo ver lucro na tal prática”, avalia.
Ainda é cedo para morrer. Quero viver e muito"
Nympha da Silva
O ato, tão comum nos dias atuais e até mesmo iniciando precocemente na vida de adolescentes, nunca integrou o rol de experiências da vovó. Esse é o grande tabu, que a aposentada confessa ter e garante que vai carregá-lo até a sepultura. Católica fervorosa, a abolição do beijo também é associada por Nympha como ato sagrado já que, segundo ela, é pela boca que proferimos bênção e maldição. “Como posso falar coisas de Deus se minha boca estiver suja? O beijo contamina”, pontua.
Ao contrário do ritmo de vida associado às mulheres daquele período, Nympha garante ter quebrado algumas regras no casamento. Uma delas é quanto aos afazeres das mulheres. “Quando ele quis se casar comigo, eu disse que era feia, pobre e que nunca iria cozinhar e passar as roupas dele. Achei que não ia seguir em frente. Porém, ele aceitou e respondeu que isso não era problema, que mesmo assim eu valia a pena”, enfatizou.
Emocionada ao falar sobre o passado, as lembranças correm pela mente, segundo a vovó Nympha, como é carinhosamente chamada por todos, a cada passo que dá no cemitério quando vai visitar o túmulo do companheiro, dos amigos e familiares. “Me lembro como se fosse hoje dos muitos momentos felizes em que vivi com as pessoas maravilhosas que Deus me permitiu conhecer, fazer amizade. Gosto de passear no cemitério por isso”, frisou. Mas rapidamente completa: “só não gosto da sensação do inevitável: a morte”.
A melancolia dura pouco e vovó Nympha demonstra que esse não é seu assunto preferido. Apesar de ter um calendário de nascimento cabalístico (1º de novembro, de 1911 - 01/11/11), e ser de uma família de 11 irmãos, a aposentada conta que nasceu em um lar católico fervoroso e a herança cristã fez dela uma boa devota. Por isso, inicia as comemorações do aniversário com uma missa de Ação de Graças, realizada em Santo Antônio de Leverger, a 30 km de Cuiabá, cidade onde nasceu e foi criada.
Católica fervorosa comemora aniversário no Dia de Todos os Santos. (Foto: Kelly Martins/G1)
Na recordação
“Antigamente era arraial. Bem me lembro das pequenas casas e das pessoas que convivi naquele lugar. Saí de lá com 23 anos, quando me casei e fui para Cuiabá”, contou, ao G1. A comemoração da centenária ainda se estende nesta terça com um baile que será realizado à noite, em um bufê da capital. O vestido escolhido é o verde-azeitona, tom sereno que, segundo ela, aponta para a personalidade forte que garante ter. “Sempre fui impulsiva e ninguém podia comigo. Não dava moleza mesmo. Se falassem algo que eu não gostava, respondia à altura”.
“Antigamente era arraial. Bem me lembro das pequenas casas e das pessoas que convivi naquele lugar. Saí de lá com 23 anos, quando me casei e fui para Cuiabá”, contou, ao G1. A comemoração da centenária ainda se estende nesta terça com um baile que será realizado à noite, em um bufê da capital. O vestido escolhido é o verde-azeitona, tom sereno que, segundo ela, aponta para a personalidade forte que garante ter. “Sempre fui impulsiva e ninguém podia comigo. Não dava moleza mesmo. Se falassem algo que eu não gostava, respondia à altura”.
Filha de agricultores, Nympha trabalhou desde a infância na roça. Na lida do campo, aprendeu que precisava de “sustância”. Ainda hoje, come viradinho de feijão, carne de porco e nem pensa em trocar carne gorda por sopa, além de tomar um bom café da manhã. "Só falam de arrozinho, massinha, bolachinha. Essas comidas delicadas não dão força para a pessoa", afirma.
Por isso, conta que não deve abrir mão de hábitos no jantar, em que dançará a valsa do centenário, e que vai contar com um cardápio bem recheado. Como revela, os médicos e a família tentam convencê-la a moderar, mas a vovó não se intimida. “Gosto de comer. É um dos prazeres da vida. Só tive que parar com a cervejinha, pois, foi constatada labirintite. Aí não pude dar nenhuma bitoquinha, porque ou ficava tonta por um ou pelo outro (labirintite)”, disse, às gargalhadas.
Nympha também reforça o fato de não ter nenhuma outra doença aparente e nem precisar tomar remédios controlados. “Minha saúde é de ferro. Ando sozinha na rua, as pessoas me param para conversar. Sou muito ativa e praticamente não fico parada. A gente vai fazer o que se não aproveitar a vida?", argumentou. E o segredo da longevidade: “é o humor que trago comigo”.
Satisfeita com o século bem vivido, vovó Nympha, de olho azul claro, o deixa bem estatelado quando descreve que tem cinco filhos, 15 netos, 23 bisnetos e um tataraneto, e que não deixou sonhos pelo caminho. “A felicidade me acompanha e acredito que a alegria nos faz viver mais. Também acho que cumpri minha missão. Sou feliz por tudo que vivi e por tudo que Deus me deu até aqui. Mas deixo claro que ainda é cedo para morrer. Quero viver e muito”, reforça.
Para contribuir com a longevidade, ela relata que as energias também vêm do tradicional guaraná em pó, que costuma beber desde quando era criança. “Meus pais me ensinaram a tomar desde cedo. Ele [guaraná] ajuda a evitar doenças e criei o hábito de sempre ingerir de manhã, bem cedinho”.
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