A força de vontade é uma ilusão? A tradicional noção de um reservatório mental profundo de força é uma ficção?
Nos últimos anos, a resposta comum a essa pergunta tem sido afirmativa. Nossas capacidades, de acordo com esse argumento, são constringidas por nossos estreitos limites biológicos. No livro "Health at Every Size" ("Saúde de todos os tamanhos", em tradução literal), de 2008, a nutricionista Linda Bacon argumenta que, por causa do modo de funcionamento do hipotálamo no cérebro, a ideia de que qualquer pessoa pode perder peso fazendo dieta é um "mito". "Não é culpa sua!", escreve ela. "A biologia é tão poderosa que consegue 'fazer' com que você saia da dieta".
Já no livro "Willpower: Rediscovering the Greatest Human Strength" ("Força de vontade: Redescobrindo a mais importante força humana", em tradução literal), publicado neste ano, Roy F. Baumeister, psicólogo social, e John Tierney, jornalista especializado em ciência do New York Times, pesquisaram um grande corpo de pesquisa científica a partir do qual concluíram que a força de vontade é limitada e depende simplesmente de um fornecimento contínuo de glicose. Quando a glicose se esgota, você fica à mercê de impulsos para fazer compras, assinar contratos e devorar cookies. A solução? "Tentar ingerir alguma glicose", disse Tierney em entrevista à National Public Radio.
Tais teorias têm um apelo óbvio: vincular lapsos de força de vontade a nossos limites biológicos fixos justifica nossa procrastinação, além de aumentar nosso manequim. E não só isso: também temos de consumir mais açúcar. Mas será que essas teorias estão corretas?
Nós acreditamos que não. Na pesquisa que realizamos com a psicóloga Veronika Job, confirmamos que a força de vontade pode realmente ser bastante limitada _ mas só se você acreditar que ela é. Quando as pessoas acreditam que a força de vontade é fixa e limitada, sua força de vontade se esgota facilmente. Mas quando as pessoas acreditam que a força de vontade se renova por conta própria _ que, quando trabalhamos arduamente, ficamos com ainda mais energia para trabalhar; que, quando resistimos a uma tentação, conseguimos resistir ainda melhor à próxima; então as pessoas conseguem empregar uma força de vontade ainda maior. Acontece que a força de vontade é algo que está na sua cabeça.
Em uma parte de nossa pesquisa, primeiro solicitamos que as pessoas realizassem uma tarefa fácil e rotineira (como marcar todas as letras "e" em uma página de texto datilografado) ou uma tarefa mais difícil, que envolveu autocontrole (como marcar algumas das letras "e", mas não todas, de acordo com um conjunto complexo de regras). Em seguida, todas completaram uma complicada tarefa cognitiva em que tinham de ter autocontrole para evitar cometer erros.
Quando começamos pela tarefa inicial fácil, para a qual a força de vontade não era necessária, as pessoas se saíram bem em seguida, na tarefa cognitiva difícil, cometendo poucos erros. Mas quando começamos pela tarefa inicial difícil e que envolvia autocontrole, as pessoas que acreditavam que a força de vontade era limitada cometeram quase o dobro de erros em relação ao grupo que começou pela tarefa mais fácil. Essa descoberta confirma muitos estudos de Baumeister e outros que foram interpretados como evidência de que a força de vontade é limitada e se esgota facilmente. Contudo, surpreendentemente, descobrimos que as pessoas que acreditavam que a força de vontade não é limitada continuaram a executar bem a tarefa, cometendo poucos erros, mesmo depois de enfrentar a tarefa inicial difícil. Elas não estavam "esgotadas" e continuaram a ter um bom desempenho.
Você pode argumentar que esses resultados mostram apenas que algumas pessoas têm mais força de vontade do que outras _ e sabem que têm. Porém, descobrimos, pelo contrário, que é possível fazer com que qualquer pessoa acredite que a força de vontade não é tão limitada. Quando pedimos que as pessoas lessem declarações que remetiam ao poder de força de vontade, como: "Às vezes, realizar uma tarefa mental árdua pode fazer você se sentir com energia para novas atividades desafiadoras", elas continuaram trabalhando e mostrando um bom desempenho, sem nenhum sinal de esgotamento. Elas cometeram metade dos erros em uma tarefa cognitiva difícil que as pessoas que leram declarações sobre a limitação da força de vontade. Em outro estudo, elas registraram uma pontuação de Q.I. 15 por cento mais alta.
Nós também verificamos esse fenômeno no mundo real. Em uma outra pesquisa, acompanhamos 153 estudantes universitários ao longo de cinco semanas. Durante momentos de estresse, como a semana de provas finais, os alunos que acreditavam que a força de vontade não é limitada contaram ter ingerido menos alimentos pouco saudáveis e ter procrastinado menos do que os alunos que não compartilhavam dessa crença. Eles também registraram um desempenho acadêmico melhor, recebendo notas melhores do que os seus colegas "pessimistas".
Além disso, quando mostramos aos universitários que a força de vontade não era tão limitada, eles apresentaram um aumento semelhante na força de vontade. Contaram que adiaram as tarefas apenas uma ou duas vezes por semana em vez das duas a três vezes por semana relatadas pelos estudantes que estavam passando por um momento de pressão, e cortaram o excesso de gastos, ultrapassando o orçamento menos de uma vez por semana, em vez de uma ou duas vezes por semana.
Como que isso acontece? As pessoas que pensam que a força de vontade é limitada estão à espreita de sinais de fadiga. Quando detectam a fadiga, elas se entregam a ela. As pessoas que captam a mensagem de que a força de vontade não é tão limitada podem se sentir cansadas, mas, para elas, isso não é um sinal de que devem desistir _ é um sinal de que devem seguir em frente e encontrar mais recursos.
E quanto à ideia da glicose, que parece receber tanto apoio entre cientistas? Baumeister e Tierney descrevem estudos que mostram que dar glicose às pessoas (na forma de uma bebida açucarada) restaura a força de vontade. Mas em nossa última pesquisa, descobrimos que quando as pessoas acreditam na força de vontade, elas não precisam de açúcar _ eles vão bem nas tarefas com ou sem açúcar. O açúcar ajuda as pessoas só quando elas pensam que a força de vontade é bastante limitada. Não é de açúcar que precisamos, mas de uma mudança na maneira de pensar.
Para sermos ainda mais claros, é importante dizer que a força de vontade não é totalmente ilimitada. Naturalmente, a alimentação e o descanso são necessários para o funcionamento do organismo, e as pessoas enfrentam muitas situações difíceis na vida. A questão é quantas vezes precisamos aumentar os níveis de ingestão de açúcar. Mensagens que sugerem que a força de vontade é muito limitada e que precisamos de mais açúcar estão fadadas a engordar as pessoas, assim como a minar sua capacidade de atingir objetivos.
O que está em jogo nesse debate não é apenas a natureza da força de vontade. É também o tipo de pessoas que queremos ser. Queremos ser pessoas que consideram as fraquezas como algo imutável? Quando um aluno vai mal em matemática, devemos dizer a ele: "Não se preocupe, matemática não é mesmo a sua praia"? Queremos que ele desista em nome da biologia? Ou queremos que ele se esforce mais em busca do que ele quer se tornar?
(Greg Walton é professor assistente de psicologia na Universidade de Stanford. Carol Dweck, professora de psicologia na Universidade de Stanford, é autora de "Mindset: The New Psychology of Success".)
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